sábado, 13 de novembro de 2010

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"A natureza humana - prossegui - é limitada: ela suporta a alegria, a tristeza, a dor, até certo ponto; se o ultrapassar, irá sucumbir (...). Neste caso, acho tão absurdo dizer que um homem é covarde por ter dado cabo da própria vida, como seria absurdo chamar de covarde quem está morrendo de uma febre maligna.
- Isso é um paradoxo, um verdadeiro paradoxo! - exclamou Albert.
Repliquei:
- Nem tanto como você supõe. Há de convir que nós chamamos de doença mortal a que esgota o organismo de tal modo, que as forças ficam em parte consumidas e em parte incapazes de agir; assim, o organismo não poderá mais se reerguer e, por uma reação favorável, restabelecer o curso regular da vida, (...) apliquemos essa verificação ao espirito. Considere o quanto o espirito do homem é limitado e como as idéias nele se fixam até que uma paixão crescente lhe retira completamente a calma, a faculdade de refletir, e o arruína. Inutilmente o homem sensato e de sangue frio contempla a situação do infeliz, e o anima. É a mesma coisa que uma pessoa saudável, junto ao leito do enfermo, tentar transmitir-lhe uma parcela, mínima que seja, do seu vigor (...). A natureza, não encontrando saída no labirinto onde as forças contraditórias lutam e se debatem desordenadamente, caminha para a morte invitável. Infeliz daquele que, vendo tudo isso, contenta-se em dizer: "Que insensata! Devia ter esperado, deixando que o tempo agisse por si; seu desespero ter-se-ia acalmado e teria encontrado quem a consolasse. Como é que esse insensato foi morrer de febre? Se ele tivesse esperado que suas forças voltassem, que os humores fossem purificados e cessasse a agitação do sangue, tudo acabaria bem e ainda estaria vivo!" (...).
- Meu amigo! - disse eu - O homem é sempre o homem".

(Os Sofrimentos do Jovem Werther - Goethe).

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